Mobilização precoce reduz custos hospitalares em 30% e melhora a recuperação de pacientes críticos

A mobilização precoce em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) é uma das estratégias mais eficazes para reduzir complicações decorrentes da imobilidade prolongada, acelerar a recuperação funcional e otimizar o uso de recursos hospitalares.
Um estudo publicado na Fisioterapia e Pesquisa (2023) demonstrou que a aplicação de um protocolo estruturado de mobilização precoce foi capaz de reduzir em 30,27% os custos de internação, representando uma economia aproximada de R$ 7 mil por paciente — sem aumentar o risco e com tendência de melhora em todos os indicadores clínicos.

Objetivo do estudo

O estudo teve como objetivo avaliar o impacto clínico e econômico da mobilização precoce em pacientes críticos internados em UTI, comparando um grupo submetido a um protocolo estruturado com outro que recebeu fisioterapia convencional.
Além da redução de custos, buscou-se observar variáveis relacionadas à funcionalidade, força muscular, tempo de ventilação mecânica e duração da internação.

Metodologia e protocolo aplicado

Trata-se de um ensaio clínico randomizado e controlado, conduzido em uma UTI clínica de hospital universitário.
Os participantes foram divididos em dois grupos:

  • Grupo Intervenção (GI): recebeu fisioterapia diária baseada em um protocolo estruturado de mobilização precoce, composto por cinco fases progressivas;

  • Grupo Controle (GC): recebeu fisioterapia conforme a rotina habitual da unidade.

O protocolo de mobilização precoce foi desenvolvido para adaptar o nível de atividade à condição clínica e funcional de cada paciente, sendo composto pelas seguintes cinco fases de progressão:

  1. Fase 1 – Mobilização passiva e posicionamento: realizada em pacientes sob ventilação mecânica e com pouca resposta motora. Observava-se estabilidade hemodinâmica e resposta cardiorrespiratória.

  2. Fase 2 – Exercícios ativos-assistidos: iniciada quando o paciente apresentava movimentos voluntários. Avaliava-se força muscular e tolerância ao esforço.

  3. Fase 3 – Sedestação à beira do leito: treino de tronco e controle postural, com monitoramento de sinais vitais e fadiga.

  4. Fase 4 – Ortostatismo: colocava o paciente em pé com ou sem suporte, observando equilíbrio e resposta autonômica.

  5. Fase 5 – Deambulação assistida: treino de marcha seguro, avaliando resistência e estabilidade postural.

As sessões eram realizadas diariamente, conduzidas por fisioterapeutas capacitados, com registros detalhados das fases alcançadas e da resposta clínica dos pacientes.

Variáveis acompanhadas

Foram analisadas variáveis funcionais, clínicas e econômicas:

  • Tempo de ventilação mecânica invasiva (VMI);

  • Tempo total de internação na UTI e no hospital;

  • Força muscular periférica (avaliada pelo Medical Research Council – MRC);

  • Funcionalidade na alta da UTI (Functional Status Score for the ICU – FSS-ICU);

  • Desfechos clínicos (alta, óbito ou transferência);

  • Custos hospitalares diretos e indiretos.

Cálculo dos custos hospitalares

O cálculo dos custos foi realizado com base em registros institucionais, considerando custos diretos (diárias hospitalares, exames laboratoriais e de imagem, materiais, medicamentos e horas de equipe multiprofissional) e custos indiretos, como uso de infraestrutura e insumos administrativos.
Os valores foram convertidos para reais e comparados entre os dois grupos, revelando uma diferença significativa a favor do grupo submetido à mobilização precoce.

Resultados

Embora não tenha havido diferença estatisticamente significativa, o Grupo Intervenção apresentou resultados superiores em todas as variáveis analisadas, indicando uma tendência clínica positiva e consistente.

Os principais achados foram:

  • Redução média de 30,27% nos custos totais de internação, equivalente a R$ 7.000,00 por paciente;

  • Menor tempo médio de ventilação mecânica;

  • Menor permanência na UTI e no hospital;

  • Maior força muscular e funcionalidade na alta;

  • Menor taxa de complicações clínicas.

Esses resultados demonstram que a mobilização precoce é uma prática segura, financeiramente vantajosa e clinicamente eficaz, promovendo melhor recuperação e uso racional dos recursos hospitalares.

Conclusão

A implementação de protocolos estruturados de mobilização precoce representa uma prática de alto valor assistencial e econômico, com potencial para fortalecer a eficiência e a segurança do cuidado em UTI. Mesmo sem diferença estatística, os resultados clínicos e funcionais do grupo de intervenção foram superiores, reforçando o impacto positivo da fisioterapia sistematizada e baseada em evidências.

Publicado na revista Fisioterapia e Pesquisa (acesso ao artigo completo aqui), o estudo evidencia o papel essencial do fisioterapeuta na recuperação de pacientes críticos e na sustentabilidade hospitalar.


Na Cinesia, acreditamos que dados como esses fortalecem o reconhecimento da fisioterapia como área estratégica na gestão da saúde, e nosso propósito é capacitar fisioterapeutas gestores para liderar práticas transformadoras, sustentáveis e centradas em resultados reais para pacientes e instituições.